sábado, 11 de maio de 2013

Metalion - The Slayer Mag Diaries

Mês passado, ao comentar no blogue sobre a publicação, em um único volume, das edições do zine alemão "Voices from the Darkside", registrei que não deveria demorar muito até que outras revistas lendárias seguissem o mesmo caminho.
Pois é, não demorou. A bem da verdade, a "Voices from the Darkside" nem mesmo foi a pioneira.
O que temos aqui é a compilação integral (são mais de setecentas páginas!) dos vinte números editados pela "Slayer Mag", da Noruega, de fevereiro de 1985 até dezembro de 2010. Para quem não sabe, a "Slayer Mag" foi um daqueles zines míticos de larga circulação no underground metálico mundial, cuja difusão se apoiava, em boa parte, sobre a estrutura montada para o tape-trade dos anos 80 e 90. Jon Kristiansen, ou simplesmente Metalion, era o faz tudo da revista, sendo responsável pela maior parte das entrevistas, arte, edição, montagem, colagem, xerox, distribuição, etc.. Por vezes contava com a ajuda de gente que, então meros integrantes de bandas de garagem, depois veio a se tornar conhecida no metal mainstream. Nomes como Nicke Anderson, do Nihilist/Entombed, Bill Steer, do Napalm Death e Carcass, e Dead, do Morbid e Mayhem.
A leitura dos números do zine em ordem cronológica é um passeio completo pela evolução do metal. O que é mais bacana: um passeio seguindo a trilha do metal verdadeiramente underground. Da época em que Venom, Bathory e Hellhammer eram a epítome do radicalismo, passando pela explosão do thrash e do speed metal, pela consolidação mundial do death metal e pela ascensão meteórica do black metal norueguês, todos os momentos relevantes da cena nas últimas duas/três décadas estão retratados na "Slayer Mag".
De se ressaltar o impressionante conhecimento do Metalion sobre o underground metálico mais duro - a propósito, um sujeito que tem as demos originais do Hellhammer na sua coleção particular, como o Metalion afirma ter no prefácio do livro, tem mesmo de ser respeitado. Embora eu não me considere um ignorante no assunto, devo confessar que, sobre algumas das bandas resenhadas na revista, eu jamais havia ouvido falar. Trata-se, sem dúvida, do underground do underground. Negócio feito por alguém que efetivamente vivia a cena.
Antes da reprodução de cada número da revista, há uma introdução escrita pelo próprio Metalion, mais ou menos em forma de diário (daí o nome da compilação), na qual ele contextualiza a publicação, usando como pano de fundo as viagens, festas e as inevitáveis amizades no meio musical que ele fez durante a vida. Tudo bem leve e escrito sem nenhum traço de autoindulgência. 
Como nem tudo são flores, porém, cabe uma crítica. É certo que a "Slayer Mag" diferia dos demais zines em razão da peculiar personalidade zombeteira do Metalion. Não há nada de mau nisso. Ao contrário, o humor indubitavelmente conferia uma qualidade vivaz ao seu texto. Contudo, em não poucas ocasiões, essa preocupação excessiva em soar engraçado, irônico ou inusitado termina por manchar gravemente matérias e entrevistas com observações e perguntas tolas. Longe de serem engraçadas, geram só irritação. Algumas entrevistas inteiras são perdidas com bobagens assim. Ora, questões do tipo "como será o próximo disco", "onde serão os próximos shows", ou mesmo a batida "como a banda começou", podem, sim, tornar-se cansativas e chatas para a banda e para o entrevistador, mas sua razão de ser é evidente: são importantes para os leitores.
Os quatro primeiros números da revista, bem como o zine anterior editado pelo Metalion ("Live Wire", também incluído na compilação), estão escritos no - para mim - ininteligível norueguês. Daí em diante os textos já são integralmente em inglês. A impressão do livro é muito boa e bem cuidada (a minha cópia é da segunda tiragem), como, aliás, costumam ser os lançamentos da Bazillion Points, editora americana especializada no mercado heavy metal. Não custa lembrar que foi também a Bazillion Points a responsável pela publicação, entre outros títulos, da ótima autobiografia ilustrada do Hellhammer, do competente livro sobre death sueco do Daniel Ekeroth e do mais mainstream "Heavy Metal - a História Completa", do Ian Christe (esse último já traduzido para o português).




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