sábado, 20 de julho de 2013

Cenotaph "The Gloomy Reflection of our Hidden Sorrows"

A cena death metal mexicana do finalzinho dos oitenta, início dos noventa, era cheia de bandas interessantes: Noctambulism, Shub Niggurath, Demogorgon, Coprofagia, Supplicium, Toxodeth, Mortuary, Transmetal, Bloodsoaked. A melhor e a mais famosa delas talvez tenha sido (junto com o Shub Niggurath) o Cenotaph.
Por muito tempo procurei, inutilmente, uma cópia do clássico debut da banda, "The Gloomy Reflection of our Hidden Sorrows". Inicialmente lançado em pequena tiragem, nos idos de 1992, pelo desconhecido selo Horus Productions, do México, o cd logo se tornou item fora de catálogo. Em 1998 houve um relançamento, com a arte da capa modificada (para pior), pelo selo Oz, do qual nunca achei uma única cópia. Foi apenas no começo deste ano de 2013, graças à iniciativa da também mexicana Chaos Records, que o disco, finalmente, voltou a ser disponibilizado de forma ampla ao público. Primeiro numa caprichada versão em vinil duplo colorido. Depois, em cd. De bônus foram incluídos os dois eps gravados pelo Cenotaph antes do primeiro lp: "Tenebrous Apparitions" (que já havia sido anteriormente veiculado em mídia digital numa compilação lançada um par de anos atrás pelo selo Distorted Harmony) e "The Eternal Disgrace", ambos de 1990.
Falando do som, o Cenotaph, em "The Gloomy Reflection", bebe diretamente na fonte do death sueco mais visceral – aquele da clássica sonoridade do Sunlight Studios. Vale dizer, um metal da morte superpesado, casca grossa e verdadeiramente sombrio. As faixas do play são bem variadas em matéria de andamento, com muitas mudanças de tempo – indo do grind ao doom – e também de riffs. Aliás, na catadupa de riffs que compõe o play, alguns são realmente memoráveis; já outros, nem tanto. De se registrar que essa mudança incessante numa mesma faixa soa, por vezes, um pouco confusa e acaba por comprometer a unidade da música. Mais ou menos na linha do que acontece com o primeiro lp do Dark Throne, na época em que os noruegueses tocavam death metal, e que também é uma forte influência para o Cenotaph. A semelhança com o som sueco revela-se ainda na onipresença de belas harmonias de guitarras construídas sobre bases arrastadas e pesadíssimas. Numa ou noutra faixa surge também algo do som antigo (quando eles ainda tocavam metal de respeito) da trindade inglesa do doom/death gótico: Anathema, My Dying Bride e, principalmente, Paradise Lost. Teclados discretos também surgem aqui e ali, apenas para intensificar as bases das guitarras. Todas essas características podem ser encontradas, por exemplo, na longa faixa "Ashes in the Rain".
A produção do disco é boa, embora pudesse ter conferido um pouco mais de densidade aos instrumentos, e claramente imita o estilo das bandas gravadas pelo mago Tomas Skogsberg no mesmo período. O vocal é outro ponto alto, cortesia do gutural soturno vomitado por Daniel Corchado, que depois viria a integrar (sem a mesma eficiência demonstrada aqui) uma das instituições do death metal americano, o Incantation.
Já nos eps, o Cenotaph se revela bem mais cru, com a adição de uma óbvia e corrosiva dose de Carcass antigo ao seu som. A produção, principalmente no primeiro dos eps ("The Eternal Disgrace"), deixa a desejar, embora não chegue ao ponto de impedir entender-se a música. A ótima e pútrida "Repulsive Odor of Decomposition", tema do ep "Tenebrous Apparitions" e que foi regravada em "The Gloomy Reflection", é apresentada aqui em sua versão original e, deve-se reconhecer, ficou mais pesada do que a versão do debut.
É uma pena que o Cenotaph, após seu lp de estreia e já sem o Corchado, tenha se distanciado do death metal mais sombrio para trilhar caminhos menos pesados e mais melódicos. Seria de se imaginar até onde a banda poderia ter chegado se tivesse maturado seu som sem perder sua essência radical. Sem embargo, "The Gloomy Reflection of our Hidden Sorrows", mesmo com seus pequenos defeitos, é um marco do death metal mexicano e seu providencial relançamento serve para nos lembrar de como o metal da morte do início dos noventa (antes de o lixo melódico se infiltrar no death metal) era absolutamente maravilhoso.


A versão em vinil do relançamento da Chaos Records
(também disponível em vinil laranja e no clássico vinil preto)

Cenotaph, com Daniel Corchado - por volta de 1992

2 comentários:

  1. Falou bem, "lixo melódico". Foda-se o At the Gates e seguidores. Gabriel

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    1. Melodia numas harmonias de guitarra, tudo bem. Agora, na base das guitarras, aí não dá. Não cabe no death metal.

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