sábado, 6 de julho de 2013

Nekroholocaust "In Memories of Fire"

Falsificação é algo comum nas artes. Na música não é diferente. Nem no metal. Sei de pelo menos dois casos, mais ou menos reconhecidos, de falsificações. Uma é a do Bloodfreak, dos EUA. Outra, a do Nargaroth, da Alemanha. Qual foi a falsificação? Ambos lançaram discos e afirmaram que foram gravados em determinada data quando, na verdade, foram gravados bem depois. No caso do Bloodfreak sabe-se que foi mera brincadeira, uma forma inusitada de prestar homenagem aos gloriosos anos oitenta. Já no caso do Nargaroth, parece (ao menos parece) que houve mesmo a tentativa de legitimar seu som se passando como banda de período anterior. Pois bem. Onde entra nessa história o Nekroholocaust? É que a banda alega que o material contido nesta coletânea foi gravado, na forma de demo, nos idos de 1988 e 89, embora só tenha sido lançado em cd, com tiragem mais ampla, em 2005, por iniciativa de um selo do qual eu jamais havia antes ouvido falar, a Mercenary Musik.
O que ouvimos aqui é impressionante. Um black/death quase sempre rápido, mas com passagens cadenciadas do tipo quebra-pescoço, construído sobre uma base fuderosa de thrash metal, pesado ao extremo e que exala radicalidade por todos os lados. Destaque, em especial, para o vocal realmente maligno, uma mistura de Tom Angelripper (Sodom) e Jeff Becerra (Possessed), e o baixo titanicamente grave. A sonoridade das guitarras também é um caso a parte. Não é muito fácil lembrar de outras bandas que tenham conseguido registrar uma sonoridade de cordas tão matadora. Isso é obtido pelo uso massivo de delay e reverb, cujo efeito colateral é transformar os riffs numa espécie de rajada indistinta e contínua de guitarra. Além de Possessed e Sodom, outras influências de respeito perpassam o som do Nekroholocaust, como Dark Angel (principalmente na constante palhetada de corda solta em "mi"), Death, Slayer, Bathory (na aura negra do som) e até Voi Vod. A execução das músicas deixa um pouco a desejar. Por vezes, parece que a guitarra e a bateria têm idéias diferentes sobre o tempo correto do que está a ser tocado. Mas nada que realmente atrapalhe o resultado final. Ouça-se, por exemplo, a apocalíptica "Embracer from the Dark Ages". Francamente, não tem cabimento, nesse tipo de som, pegar-se em tecnicalidades.
Se o material foi mesmo gravado no fim dos oitenta, então constitui um dos registros mais impactantes do underground metálico americano da época. Não dá pra entender como pode ter passado praticamente sem ser notado na ocasião - precisamente daí nasce a suspeita mais forte de falsificação. Como ponto a favor dos caras, de se registrar que quase tudo o que se escuta aqui podia ser encontrado em outras bandas (ultra-radicais) da mesma época. Digo quase tudo porque há um riff ou outro que aponta na direção de algo mais noventista, na linha do Profanatica. Contudo, mesmo nesse caso não dá pra cravar, só por isso, que a gravação seja de época posterior. Fosse assim e o Necrovore (banda oitentista que, como o Nekroholocaust, também tinha uns fraseados de guitarra avant-garde para a época) teria de ser considerado uma falsificação.
Pesquisando pela internet, encontrei este link, no qual um resenhista diz conhecer pessoalmente os caras da banda e ter tido acesso à demo no fim dos oitenta. A história que ele conta é verossímil, principalmente ao ressaltar que o pessoal do Nekroholocaust tocava antes na desconhecida banda de speed/thrash Necrophagia (da Califórnia, nada a ver com o Necrophagia famoso, de Ohio). Duas músicas contidas nesta compilação, inclusive, seriam versões mais antigas de músicas desse Necrophagia.
A verdade é que sendo uma banda dos anos oitenta (e acho que é) ou uma banda moderna, o que se escuta aqui é realmente excelente. Mandatório para fãs de black/death metal (e até thrash metal extremo) da velha escola.

A infame capa da compilação

Necrophagia (da Califórnia) - a versão light do Nekroholocaust?

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