domingo, 25 de agosto de 2013

Brain Dead "From the Ecstacy"


O sudeste asiático tem uma longa tradição no underground metálico. Pelo menos desde o final da década de oitenta, bandas provenientes daquelas paragens tornaram o lugar familiar para os colecionadores de demos ao redor do mundo. Os conjuntos de lá, usualmente a gravitar em torno do death/black metal visceral, primam pelo radicalismo do som e pela crueza das produções. Afinidades musicais com a cena extrema sulamericana são evidentes, principalmente com as clássicas bandas deathcore de Belo Horizonte.
O malaio Brain Dead encaixa-se perfeitamente nessa descrição. Seu debut e único full lenght, "From the Ecstacy" (sic), lançado em 1992 em formato cassete apenas no mercado doméstico da Malásia, consiste num deaththrash metal de cepa sulamericana fortemente influenciado pelo black metal old school (marcadamente na temática e nos vocais). Com efeito, em faixas como "Unholy Sins", a banda deixa clara sua dívida com Sepultura antigo, da fase "Schizophrenia" e até "Morbid Visions", na forma de riffs poderosos caudatários do já citado deaththrash feito na América do Sul na segunda metade dos gloriosos anos oitenta. Pitadas de Kreator, especificamente do "Terrible Certanty", também podem ser identificadas no som dos malaios. Menção especial vai aqui para a fuderosa cadência thrash que irrompe no meio daquela música: um quebra-pescoço superpalhetado típico do estilo.
Já em "Twisted Souls", o black metal da velha escola dá as caras e citações aos brazucas Sarcófago, do "INRI", e Sex Trash, do maravilhoso "Sexual Carnage", se fazem abundantes. O black metal grego, bem do comecinho dos noventa, também ajuda a compor o som do Brain Dead. Ouça-se, por exemplo, a excelente "Sacred", faixa majoritariamente construída numa levada mais lenta em que pulsa forte o espírito obscuro do antigo Rotting Christ do clássico ep "Passage to Arcturo". Aliás, cumpre ressaltar a extrema competência da banda para criar melodias macabras, bem na linha dos já citados Sepultura e Rotting Christ das antigas, que muito enriquecem o som dos caras, sem nunca soarem, entretanto, tolas ou melosas.
Embora eu tenha escolhido destacar essas três faixas - por coincidência, as três primeiras do play -, todo o disco é realmente muito, muito bom. A produção, ainda que pudesse ter conferido mais peso e densidade ao som, não compromete: é crua e casa bem com o estilo trilhado pela banda.
De bônus, esse relançamento limitado e numerado da obscura Thrashingfist da Malásia (a americana NWN! foi responsável pelo relançamento em vinil do lp) traz duas demos gravadas no ano de 1991. Numa delas, pessimamente produzida, o som do Brain Dead está bem diferente, contando com músicas curtas e rapidíssimas, que aproximam a banda do noisecore. A outra demo, composta por duas faixas registradas ao vivo num festival na Tailândia (ambas regravada no full lenght - uma delas com outro nome), é muito melhor e mostra a banda já seguindo a fórmula de sucesso do seu debut.
Dentro da onda de relançamentos que atualmente vem assolando o mercado, os títulos vindos do sudeste asiático - embora não sejam, talvez, os mais procurados pela generalidade dos colecionadores - são dos mais interessantes. Além desse ótimo Brain Dead, outras bandas históricas do metal extremo asiático, como os excelentes Abhorer e Nuctemeron  (não confundir com o homônimo brasileiro), ambas formações de Cingapura, ganharam versões recentes de seus velhos discos em cd e até em vinil. Para os fãs de black/death metal old school, esse é o momento exato de espichar os olhos em direção ao Oriente. Afinal, se conseguir hoje as versões originais daqueles discos é tarefa quase impossível, esses relançamentos, principalmente quando são limitados, logo ficarão também indisponíveis. Então, colecionador, se apresse! Salvo se você não se importe em pagar, no futuro, preços exorbitantes no e-bay e sites congêneres.


O belíssimo relançamento em vinil duplo da NWN!


Uma das primeira fotos promocionais do Brain Dead

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